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LEITURA:

10 MINUTOS…

Resumo

Os métodos bidimensionais, em que a combinação de gravidade e probabilidade é mais frequentemente utilizada nas avaliações de risco, tendem a criar alguma confusão. Partindo da observação de que a probabilidade de ocorrências admite uma variedade de resultados, não se encaixam na prática usual da segurança da vida. Como consequência, as avaliações de riscos, como incêndios, roubos, acidentes e desastres, precisam de algum tipo de interpretação para serem usados. A avaliação combinada de exposição, vulnerabilidade e gravidade oferecem uma melhor abordagem para riscos associados à segurança, pois a abordagem se encaixa melhor à maneira intuitiva de fazer as avaliações. Neste post, você vai entender melhor os motivos para aplicar métodos tridimensionais, os quais eu acredito que, intuitivamente, você até aplique esses conceitos. Por isso, inicio o artigo abordando um melhor entendimento dos conceitos de risco e tolerância (risco aceitável), abordo as perspectivas que podem criar alguma confusão na aplicação dos métodos bidimensionais e, finalizo, revelando como os métodos tridimensionais se encaixam melhor na avaliação dos riscos de segurança.

Visão Sobre Riscos e Tolerância

Permita-me oferecer um desafio a você… que edificação tem maior risco: de madeira ou alvenaria?

Sendo um bom analista der riscos, você deve estar pensando em me fazer pelos menos duas perguntas:

  1. Que tipo de ameaça ou perigo estamos analisando?
  2. O que queremos proteger: a edificação ou possíveis ativos (pessoas, materiais, produção, o ambiente no entorno etc.) que estão dentro dela?

Obviamente, as respostas que eu lhe oferecer levarão você a me fazer outras perguntas.

Até que você consiga formar alguma convicção em sua avaliação, que permita concluir o desafio que lhe propus.

Só que a confusão que eu me referi não está em desafios como este, mas logo após quando os concluímos. Justamente quando vamos recomendar medidas de proteção para mitigar o risco que avaliamos.

Gostaria de entender o porquê? É o que eu vou compartilhar com você nas próximas linhas deste post. Para falar a verdade, eu prefiro dizer que este post pode te ajudar a elaborar projetos mais consistentes, capazes de proporcionar a conquista dos investimentos requeridos para a melhoria do nível de segurança.

Para isso acontecer, vamos precisar trabalhar alguns conceitos. Como sabemos, os métodos de análise nos dão alguma forma de quantificação do perigo, perante à possibilidade de uma ameaça ocorrer e, na maioria deles, são estabelecidos diretrizes para comparar o risco a um benchmark considerado como um nível aceitável de risco.

A ideia de risco aceitável é debatida há muito tempo. Por exemplo, no livro Of Acceptable risk, Science and the Determination of Safety, publicado em 1976 por William W. Lowrances, ele escreveu que “as pessoas aceitam riscos, mesmo com consequências mortais, se a combinação de vulnerabilidade, exposição e gravidade for baixa suficientemente”.

Os riscos tendem a ser menos aceitáveis quando as consequências são mais graves, quando mais pessoas estão sujeitas ao mesmo tempo ou quando a ameaça for prolongada. Por outro lado, os risco são mais aceitáveis quando as consequências são reversíveis ou reparáveis, quando a ameaça for de curta duração, quando houver um benefício visível ou quando pensamos que temos o controle das causas do evento indesejável.

Neste último fato reside algo curioso: por exemplo, as pessoas têm mais medo de algo ocorrer a noite, mais quando estão dormindo, do que durante o dia. Sendo que, elas estão mais expostas ao risco quando estão em atividade, do que quando estão em repouso. Portanto, risco trata-se inicialmente de uma questão de percepção, sentimento ou sensação de estar atento e seguro.

Às vezes, simplesmente as pessoas são obrigadas a aceitarem riscos porque não têm os meios para se proteger ou porque os consideram como inerentes as suas vidas. Por exemplo, aquelas que aceitam morar em locais expostos a inundações, vulcões, ataques terroristas ou terremotos, que fazem parte das suas condições de vida.

Contudo, as pessoas para as quais elaboramos projetos de segurança são mais propensas a investir ou patrocinar medidas que garantam a continuidade de seus negócios. A nossa avaliação deve recomendar medidas tecnicamente aplicáveis, culturalmente aceitáveis e financeiramente viáveis, fundamentada por uma relação de custos e benefícios, 

Você concorda com esta afirmação? Se não concorda, esta matéria não irá atender as suas necessidades. Contudo, se você concorda e acredita que suas recomendações de segurança seriam melhor implementadas com base em métodos que estabeleçam uma relação de custos e benefícios. Muito bem, vamos adiante!

Mas antes, eu gostaria de falar em dois tipos de métodos existentes de avaliação de riscos, classificados como bidimensionais e tridimensionais. É na escolha deles que confusões podem surgir, com interpretações sendo necessária, e você precisar fazer algum tipo de adaptação ter uma avaliação consistente dos riscos de segurança.

Métodos Bidimensionais

Geralmente no Brasil, “importamos” os métodos da escola norte-americana que emprega basicamente esquemas bidimensionais de quantificação. Eles expressam o risco por uma combinação da probabilidade (de ocorrência ou frequência) e do impacto proveniente da perda. Foram desenvolvidos onde a exposição a riscos é contínua, como nas atividades militares, nas aviação e nas indústrias nucleares e químicas.

Por esta razão, os métodos bidimensionais tendem a criar alguma confusão, quando são utilizados na análise dos riscos de segurança. Não se encaixam na prática usual da proteção da vida, do patrimônio, do meio ambiente ou mesmo dos negócios. Eles partem da observação de que a ocorrência de um evento indesejado tem uma variedade de resultados em termos de efeitos. Mas não é bem assim!

Por exemplo, o roubo. Sendo uma ameaça em que existe a grave a ameaça a vida, que resultado podemos temer? Como indicar em termos probabilísticos se uma pessoa pode ou não morrer?

De verdade, não há como avaliarmos isso. Mesmo que alguns ainda se atrevam a considerar dados estatísticos, como os dos órgãos de segurança pública, para estabelecer uma probabilidade expressa pelo “número de mortes por ano” em funções de roubos.

Os riscos de segurança não estão relacionados a exposição contínua. São eventos raros e indesejados. Pense comigo: qual a probabilidade de uma pessoa ser morta em um roubo, um incêndio, uma inundação ou um acidente de trabalho? Em um único evento não temos como estabelecer a probabilidade de uma pessoa morrer, mas podemos considerar que ela sempre estará exposta a este tipo de risco.

Por esta razão, o prudente é avaliar a exposição e não a probabilidades. Sempre que avaliarmos riscos de morte ou perdas, o nível aceitável não pode ser definido por uma probabilidade (mortes ou perdas por evento ou tempo), mas pela exposição. O resultado temido será a morte ou a perda e, portanto, as recomendações devem se destinar a reduzir a exposição ao perigo, e não para reduzir a probabilidade de um evento ocorrer.

Isto é simples! Uma empresa pode ter em um ano mais de uma ocorrência de roubo, incêndio ou acidente sem que haja uma única vítima. E, no ano seguinte, um único evento desses pode haver gerar uma morte. Veja, não há como estabelecer níveis de morte, ou perda. Em melhores palavras, nestes tipos de ocorrências, a vida sempre estará exposta ao risco de morte

Métodos Tridimensionais

Já os métodos tridimensionais, que expressam o risco por uma avaliação combinada de exposição, gravidade e vulnerabilidade, já oferecem uma melhor abordagem para riscos de segurança, que como vimos, não são eventos contínuos, mas raros e indesejados.

Primeiro, por empregarem a exposição e não probabilidade. Por exemplo, na segurança contra incêndios de edificações mais altas, a prática de se impor maior rigor nas medidas de proteção não pode ser explicada por uma diferença na probabilidade de ocorrência de incêndio. Mas se encaixa perfeitamente na maior exposição que a edificação mais alta impõe, relacionada ao tempo necessário para evacuar todos os ocupantes, sendo muito maior do que em edificações mais baixas.

O mesmo princípio vale na segurança patrimonial, por exemplo, para os rigor nas medidas contra furtos, que será maior na proteção dos objetos valiosos de pequeno porte, em relação aos de grande porte. A exposição neste caso está relacionada a maior facilidade de serem subtraídos de forma velada.

Uma empresa pode ficar anos sem sofrer algum tipo de ocorrência ou mesmo que sofram, os danos sejam minimizados. Entretanto, a exposição e a gravidade durante este período serão sempre os mesmos. Eles não se alteram com o tempo, pois sempre convivemos como temor de um evento indesejado ocorrer produzindo danos severos.

O fato desses eventos não ocorrerem ou quando ocorrem sejam minimizados os efeitos, pode estar relacionado à força das medidas protetivas instaladas. Isto, faz sentido para você?

Se faz, vamos ao segundo motivo para se empregar métodos tridimensionais.

Você deve reparar que a dimensão “vulnerabilidade” deve ser considerada em todas as equações de análises de risco de segurança. Não estou falando em somente apontar falhas e oportunidades, mas de obter um nível de vulnerabilidade, a ser comparada com a exposição e gravidade.

Portanto, a avaliação dos riscos de segurança deve ser feita considerando fatores tridimensionais, relacionados a Exposição (E), Gravidade (G) e Vulnerabilidade (V). Pode inclusive ser expressa por uma equação: E x G x V ≤ C, cujo resultado será um valor constante (C) que representa um nível de risco aceitável.

A gravidade é avaliada pela “pior consequência “, sem considerar a eficácia da proteção ou tamanho da exposição. Voltando ao exemplo do roubo, temos sempre que avaliar a pior consequência: a perda material e humana.

Tal “pior consequência” torna-se aceitável quando a combinação da exposição e vulnerabilidade são baixas e equilibram a gravidade do caso. A exposição leva em consideração fatores que favorecem a ocorrência e o desenvolvimento de um evento indesejado. A vulnerabilidade, por sua vez, é avaliada em termos da eficácia e qualidade das medidas protetivas aplicadas.

Nos métodos tridimensionais, portanto, sempre existirá uma razão direta entre o perigo e a proteção. Quanto maior for o perigo, expresso em termos de exposição e gravidade, maior deve ser a proteção, com isso, menor a vulnerabilidade.

Os métodos bidimensionais, mesmo que você utilize exposição em vez de probabilidade, tendem ser inconsistentes. Pelo fato de não lhe proporcionar estabelecer parâmetros de comparação entre proteção e perigo.

A exposição e gravidade são dimensões avaliadas de acordo com a natureza dos ativos a serem protegidos, face às ameaças presentes. A interação entre elas constitui o que se denomina de criticidade, que nada mais é do que um grau de perigo.

Isto pressupõe que a criticidade é imutável enquanto os ativos estiverem mantendo suas características. O objetivo de avaliar a criticidade é saber o quanto está perigoso uma determinada edificação ou atividade. O grau de perigo permitirá determinar níveis de tolerância em relação à vulnerabilidade.

Em projetos iniciantes, a análise da criticidade definirá parâmetros para um nível aceitável de vulnerabilidade, pelo quais poderemos projetar medidas de proteção adequadas ao perigo. Em projetos já implantados a análise da exposição, gravidade e vulnerabilidade responderá uma única questão: se as medidas protetivas são compatíveis com o perigo imposto pelas ameaças.

Este é o fundamento pelo qual eu digo que você pode estar avaliando riscos de segurança de maneira inconsistente: primeiro, pelo fato de considerar probabilidade em vez de exposição; depois, por avaliar o risco de forma bidimensional, obtendo somente a criticidade; e por último, ao não estabelecer uma relação entre criticidade e vulnerabilidade.

De forma intuitiva, até fazemos esta relação entre criticidade e vulnerabilidade. Pois é costume recomendar novas medidas protetivas após gerarmos e apresentarmos uma matriz de riscos (exposição x gravidade). Mas não estabelecemos para demonstrar que são compatíveis com risco.

Outra relação interessante dos métodos tridimensionais, remete à junção entre exposição e vulnerabilidade. Lembra do desafio que lhe propus no início? Você concorda que uma maior probabilidade de ocorrência de algo indesejado está ligada a estas duas dimensões. Por exemplo, a edificação de madeira tende a ser mais vulnerável contra intrusão, quando existe algum objeto atrativo e de valor. O mesmo se pensa quanto a propagação de incêndio.

Talvez, seja por isso que tenha sucesso ao usar empregar métodos bidimensionais. Intuitivamente, você deve fazer esta relação de “probabilidade = exposição x vulnerabilidade”, respondendo ao desafio que lhe propus, da seguinte maneira:

“Que edificação tem maior risco: de madeira ou alvenaria? Resposta: depende do que quero proteger“.

Agora, pergunto a você: que critério analítico usamos para estabelecer a relação entre as recomendações e matriz de riscos? Como justificamos matematicamente o investimento requerido em relação a criticidade? Quantas vezes vimos recomendações propostas, mesmo que aprovadas, serem implementadas? Será que “a cura pode ser mais nociva que a doença”?

Concorda que falta alguma coisa? Se concorda, convido a você a conhecer melhor os métodos de análise tridimensional dos riscos de segurança. Com o que existe ao seu alcance na internet, em livros e revistas, você pode seguir sozinho. Ou podemos caminhar juntos, com base em minhas orientações e de outros profissionais que fazem parte do meu mindset.

mvalle é uma empresa especialista em gestão de riscos e emergências que envolvam a saúde, meio ambiente e patrimônio. Os anos de experiência com organizações dos mais variados setores da economia a credenciam.

Seguimos os requisitos contidos na ABNT NBR ISO 31000:2018 – Gestão de Riscos – Diretrizes e ABNT NBR IEC 31010:2021 – Gestão de Riscos – Técnicas para o Processo de Avaliação de RiscosTer o apoio da mvalle na avaliação dos riscos de segurança é certeza de saber se os recursos estão compatíveis com o risco.

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